"De novo, a politicagem do tal Conselho de Entidades"


ELOIR RODRIGUES

Tem gente, em Ponta Grossa, que só falta pendurar uma melancia no pescoço e sair desfilando na Avenida Vicente Machado para chamar um pouco mais de atenção. Daquele tipo que, diante de um raio, faz pose pensando que vai sair na fotografia. Por falar nisso, esse tal Conselho de Entidades, criado pela Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), arranjou mais um pretexto para fazer politicagem. Essa história de abaixo-assinado para apresentar projeto de lei propondo a manutenção do número de vereadores em 15, não passa de uma firula para ganhar espaço na mídia.

Oras, em diversos outros municípios, por este País afora, as mobilizações populares conseguiram sim impedir o aumento do número de vereadores. Porém, as mobilizações aconteceram no momento apropriado, ou seja, quando as discussões foram levantadas nas Câmaras Municipais. Aqui em Ponta Grossa, o aumento do número de parlamentares foi discutido no Legislativo Municipal por vários meses, culminando com a aprovação do projeto no último dia 11 de abril. O tal Conselho de Entidades, que se diz tão vigilante acerca dos interesses dos cidadãos ponta-grossenses, ao que parece, dormiu no ponto. Não teve a mesma agilidade e competência dos movimentos de entidades de classes de outros municípios brasileiros para agir na hora certa. E agora, quase cinco meses depois que o aumento de vereadores em Ponta Grossa já é um fato sacramentado, vem à tona para tentar manobrar a população, numa campanha completamente inócua.

Sim, porque ainda que esse tal Conselho consiga reunir dez mil assinaturas e apresentar o projeto na Câmara, quem decidirá acerca da proposta são os mesmos vereadores que decidiram pelo aumento no número de cadeiras na Casa. Alguém, em sã consciência, acredita que os parlamentares irão mudar de idéia? É óbvio que não. Logo, fica claro que o verdadeiro intuito desse tal Conselho é somente fazer barulho. E aí fica a pergunta: a quem interessa, às vésperas de um novo pleito municipal, fazer esse tipo de politicagem? Esse tal Conselho possui uma incontestável crise de identidade. Ora quer fazer as vezes de poder Executivo, outrora quer mandar mais que o Legislativo, e nas horas vagas ainda se acha no direito de exercer as funções da “Santa Inquisição”, julgando a tudo e a todos. É como se fosse um poder paralelo em Ponta Grossa, quando, na verdade, nada mais é de um órgão de classe, ligado ao setor empresarial e industrial da cidade.

O Conselho de Entidades não possui mandato popular. Não possui poder de representação política emanado pelo povo, através do voto. Seus membros, assim como todo cidadão/contribuinte, gozam sim do direito de manifestar opiniões, bem como fiscalizar e cobrar posturas éticas e morais do poder público. A nossa Constituição assegura esse direito. Porém, alguns membros do órgão extrapolam quando notadamente confundem o direito de se manifestar com politicagem. Será que dentro desse grupo não tem gente interessado em disputar a próxima eleição municipal e, por isso, se preocupa tanto em fazer firula e aparecer na mídia? Ou será que alguns membros estariam a serviço de outros caciques maiores, igualmente com os olhos voltados para as eleições de 2012?

Se o tal Conselho de Entidades pretende ser, algum dia, porta-voz dos interesses dos ponta-grossenses, precisa conquistar o respeito da população. Isso passa pelo respeito à inteligência do povo. Ponta Grossa possui tantos outros temas importantes para o futuro da cidade. Por que o Conselho, que é ligado ao setor empresarial, não discute, por exemplo, a necessidade de qualificação de mão-de-obra para o comércio e as indústrias? Por que não discute a necessidade de um aeroporto na cidade? Ou então o caos na saúde e no trânsito, a precariedade do distrito industrial, melhorias na política de atração de novos investimentos etc? Será que ficar batendo em vereadores dá tanto ibope assim?

E a propósito do aumento do número de cadeiras na Câmara Municipal de Ponta Grossa, a polêmica não deveria ser em torno da quantidade, mas sim da qualidade. Em outros tempos, a cidade já teve 21 vereadores. Hoje são 15. Os gastos não diminuíram. A representatividade da população foi diminuída (menos bairros, por exemplo, puderem eleger representantes na Câmara), e o orçamento do Legislativo não reduziu, pelo contrário aumentou. Então, o fato de o numero de vereadores aumentar para 23 a partir do ano que vem não deveria ser o foco do tal Conselho, assim como de todos nós cidadãos.

O importante é que essa mudança não implique em mais aumento de gastos e, por outro lado, repercuta numa melhoria da qualidade dos trabalhos do Legislativo. Quem sabe, num processo de amadurecimento e engrandecimento, o tal Conselho não possa contribuir, no futuro, para que isso acontece. A politicagem, porém, precisa ser deixada de lado.

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