Artigo

Alguns fazem política, mas outros preferem politicagem...

(Leia-se ACIPG e Conselho de Entidades)

A julgar pelo artigo que o presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), empresário Marcio Pauliki, publica hoje, no JM (página 4A), a entidade resolveu assumir, de forma mais explícita, o seu caráter político. Até aí tudo bem. É salutar à democracia que a sociedade civil organizada se mobilize e una forças para lutar por seus direitos, bem como cobrar e fiscalizar a atuação do poder público. Da mesma forma, ninguém contesta também o direito de todo e qualquer cidadão em filiar-se a partido político, lançar candidatura ou simplesmente manifestar suas opiniões.

O que se discute, entretanto, a partir da proposta da Acipg e do tal Conselho de Entidades, em fazer uma mobilização para reverter o já discutido e aprovado aumento do número de vereadores em Ponta Grossa, é seu caráter eleitoreiro. E aí é preciso lembrar que existe uma diferença muito clara entre “política” e “politicagem”. É claro que os membros da Acipg e do tal Conselho podem se filiar a partidos e participar, na condição de candidatos, do próximo pleito municipal. Porém, por questão ética e moral, não podem instrumentalizar a Acipg e as diversas e respeitadas entidades que integram o tal Conselho para promover pessoas/candidatos ou partidos políticos.

Então, em meio a tanta demagogia e hipocrisia acerca dessa celeuma, algumas questões precisam ficar muito claras. A primeira e mais relevante delas é o fato de que o presidente da Acipg, Márcio Pauliki, acabou de anunciar na semana passada a sua filiação ao PDT. Aliás, o anúncio da filiação aconteceu na quarta-feira passada, um dia antes de o Conselho deflagrar a campanha contra os vereadores. Ninguém entra num partido político por acaso. E no caso de Pauliki, todos sabem de suas pretensões de disputar a Prefeitura em 2012. O empresário busca compor uma aliança de centro-esquerda, com o PT. Em último caso, não sendo candidato a prefeito, deve apoiar novamente os irmãos Oliveira, engajando-se na campanha de Marcelo Rangel (PPS).

Todos sabem também do relacionamento que Pauliki possui com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Logo, conclui-se que ele faz parte de um grupo antagônico à aliança já anunciada entre PSDB/DEM, comandada pelo prefeito Pedro Wosgrau Filho, o governador Beto Richa, o reitor da UEPG, João Carlos Gomes, e deputado estadual Plauto Miró Guimarães. Portanto, a filiação de Pauliki ao PDT tem fortes razões e, obviamente, está relacionada ao pleito do ano que vem em Ponta Grossa.

Considerando tudo isso, fica difícil dissociar o movimento supostamente “político” lançado pela Acipg, presidida por Pauliki, de seus interesses eleitorais para 2012. Ou seria mera coincidência o fato de Pauliki ter liderado a comitiva de lideranças que na quinta-feira passada – um dia após a sua filiação ao PDT – visitou a Câmara Municipal para falar da campanha popular contra o aumento do número de vereadores?

Sendo bastante didático, para que todos entendam as críticas ao caráter “politiqueiro” do tal Conselho de Entidades, esse é o cerne da questão. Ou seja, o presidente da Acipg é um dos pré-candidatos a prefeito de Ponta Grossa. E na prática, começa a ficar difícil distinguir as duas coisas, aflorando uma certa incompatibilidade de funções. Logo, o tal Conselho, que tanto preza pela ética e moralidade na política, deveria estar atento para o risco de a credibilidade conquistada pela Acipg, ao longo de sua história, ser usada para fins de um grupo político/partidário, em detrimento de interesses coletivos.

A Associação não pode jogar sua história no lixo. Precisa manter a postura que sempre teve, de ser suprapartidária. Pauliki tem todo o direito de se filiar ao PDT e de ser candidato a prefeito. Aliás, é sim uma liderança empresarial respeitável, que emerge como uma opção diante da necessidade de renovação na política ponta-grossense. Mas deve tomar cuidado para não matar no ninho um projeto político que teria de tudo de avançar.

A discussão sobre o aumento do número de vereadores é questionável porque certamente não trará resultados práticos. Ninguém duvida que o movimento reunirá as 10 mil assinaturas necessárias para a apresentação do projeto. Mas quem decidirá acerca da proposta será, novamente, os mesmos atuais 15 vereadores que já decidiram pelo aumento do número de vagas para 23. Ou seja, não vai dar em nada. Se o objetivo do tal Conselho, com essa mobilização, fosse aguçar o senso crítico dos eleitores, tendo em vista a aproximação das eleições municipais, poderia ter agido de outra forma. Até porque nem o Conselho, nem os próprios vereadores, tem poderes para reduzir o limite de gastos do Legislativo Municipal. O limite é definido por lei federal. No caso da Câmara de Ponta Grossa, está fixado em 5% do orçamento do Executivo. Mesmo que aceitassem, os vereadores não teriam poderes para fixar um teto de gastos menor.

Óbvio que seria melhor se Ponta Grossa continuasse com 15 vereadores, os gastos da Câmara fossem reduzidos e os trabalhos do Legislativo aumentassem em qualidade. Até porque Papai Noel existe! Ninguém é contra ações de conscientização política da população. Mas a Acipg não pode ter dono. Ela pertence à cidade e é mantida com dinheiro que sai do bolso de seus associados. E num grupo tão amplo é natural que as preferências partidárias também sejam as mais diversas. Logo, a Acipg não pode ter candidato a prefeito, tampouco partido. Precisa ser suprapartidária e defender os interesses de muitos. Não de poucos...

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