Máfia da cidadania italiana está ativa em Curitiba

No ano passado 1.118 brasileiros tiveram documentação cancelada na Itália, e neste ano já ocorreram mais duas operações. Segundo ex-deputada, há atuação na capital


Com o apoio da ex-deputada do parlamento Italiano para a América do Sul Renata Bueno foi entregue na semana passada, em Roma, mais uma série de denúncias contra um grupo de pessoas que estariam fraudando processos de cidadania italiana. As novas informações podem servir para que os italianos ampliem as investigações contra envolvidos nos esquemas, que estão sendo desvendados desde 2018.

Em fevereiro do ano passado, 1.188 brasileiros, que supostamente deveriam morar em Ospedaletto Lodigiano, tiveram suas cidadanias canceladas após uma operação do Ministério Público Italiano. A cidade tem apenas 1,5 mil habitantes. Já neste ano, em março, sete brasileiros foram presos na operação “Super Santos”, na província de Verbano Cusio Ossola. Cerca de 800 cidadanias de brasileiros foram canceladas e na semana passada uma operação realizou busca e apreensão prefeitura de Lauriano.

Desde 2013 já havia denúncias, diz a ex-deputada Renata Bueno. “Eu recebi muitas mensagens de brasileiros pedindo orientações e, com certa constância, pedidos de socorro: pessoas que haviam caído em golpes, gastando dinheiro com documentação falsa e, às vezes, viajando até a Itália para perceber que tudo não passava de um grande esquema para conseguir dinheiro de forma ilícita.”

No começo deste mês um casal foi preso em Curitiba. Eles foram acusados de se passar por funcionários do consulado italiano e aplicar golpes. Uma das vítimas teria pago R$ 12 mil. Segundo o advogado ítalo-brasileiro Luiz Scarpelli, que atua com obtenções de cidadania na Itália e vem denunciando os casos, os esquemas ativos atuam principalmente através das rede sociais.

“Os grupos de Facebook servem tão somente como redes de pesca para captar serviços para assessores na Itália”.

As cobranças por assessorias não são irregulares e variam entre 3 mil e 5 mil euros. Os problemas, conta Scarpelli, acontecem principalmente nos chamados processos administrativos, nos quais as pessoas pedem a documentação quando já estão na Itália, e para isso precisam provar que já moram lá: apelando para apartamentos controlados por “coiotes” ou papéis falsos. “Há pessoas que perdem a cidadania e acabam ficando como ilegais, sem ter nada no país”, conta.

RECEIO É QUE ITÁLIA RESTRINJA PROCESSOS

Quem tem ascendência italiana, ou quem trabalha com obtenção de processos legais de cidadania, teme que a série de escândalos faça a Itália rever suas regras de concessão para brasileiros. Segundo dados do Ministério do Interior da Itália, elaborados pelo Istat (Instituto Nacional de Estatística), os brasileiros responderam, em 2017, por 85% dos pedidos via direito de sangue (jus
sanguinis) feitos em solo italiano: foram 7.014, de um total de 8.252 – os números excluem os procedimentos feitos pela rede consular e foram divulgados pela Agência Ansa.

Há três vias principais para a obtenção: pelos consulados no Brasil (em processo que pode levar até 10 anos), pelo judiciário romano (que costuma ser mais rápido) ou pelo chamado processo administrativo – em qualquer uma das 7 mil ‘comunas’ na Itália.

O advogado Luiz Scarpelli lembra que cidadãos de Portugal, por exemplo, já tiveram restrições. “Se a Itália decidir que só quem é neto tem o direito, boa parte da comunidade brasileira não poderá ser incluída, porque a imigração já veio antes dos atuais avós, desde 1800”, explica.
Pela regra italiana atual só é preciso que se comprove que um antepassado seja do país – incluindo bisavós e adiante.

Terceiro no ranking: Em 2017, 9.936 brasileiros receberam a cidadania. O Brasil é o terceiro país de origem com maior número de beneficiados. A Albânia lidera, com 27.112 concessões; em seguida, vem o Marrocos 22.645.

Informações de Metro Jornal Curitiba. Publicado por Paraná Portal. Imagem: Ilustrativa.