Há risco dos gafanhotos chegarem a Ponta Grossa e região?
Uma nuvem de gafanhotos teve início no Paraguai, está na
Argentina e pode chegar ao Brasil. A informação foi confirmada na tarde desta
terça-feira (23) pelo Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agro-Alimentar
(Senasa), do governo argentino, que emitiu um alerta de perigo para a região da
fronteira com o Rio Grande do Sul.
De acordo com a instituição, a nuvem de gafanhotos
avançou pelo Rio Paraná até a província de Corrientes, na Argentina. Pelo
alerta da Senasa, a cidade de Entre Rios, no oeste do Rio Grande do Sul, pode
ser afetada. Além dela, outros pontos de fronteira no sul do país estão
ameaçados.
Valkiria Fabiana da Silva, professora do curso de
Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e detentora de uma
vasta experiência no ramo da entomologia (estudo de insetos), falou sobre a
possibilidade dos gafanhotos chegarem a Ponta Grossa, os riscos que eles podem
trazer e o método mais eficaz no combate a essas pragas.
Risco da praga chegar no Paraná e nos Campos Gerais
Quando perguntada sobre a possibilidade desses gafanhotos
atingirem a nossa região e o Estado do Paraná, a docente relata que sim, há a
possibilidade, mas que tudo isso depende de uma junção de fatores como clima
seco e quente.
“Temperaturas altas e climas mais secos favorecem a sua
dispersão. Assim, é possível que estes insetos alcancem o estado do Paraná e
região dos Campos Gerais, uma vez que o nosso estado faz fronteira com Santa
Catarina. Mas isso vai depender principalmente dos fatores climáticos. Ou seja,
caso as temperaturas caiam nos próximos dias e, se esta queda vier acompanhada
do aumento da umidade, pode ocorrer uma ‘espécie’ de barreira climática que
pode impedir a migração para o estado, contudo, ainda é cedo para afirmar”,
reforça.
Insetos hoje são mais agressivos
Os gafanhotos já estiveram no Brasil por volta do século
XIX, explica a professora, porém ela ressalta que esse ressurgimento atual é
mais agressivo e danoso.
“A espécie de gafanhoto Schistocerca cancellata pertence
a ordem Orthoptera e família Acrididae. São insetos que já estavam presentes no
Brasil há um certo tempo, desde o século XIX. Contudo, nos últimos anos têm
ocorrido relatos do ressurgimento desta praga em fase mais agressiva nas
chamadas ‘nuvens de gafanhotos’, onde uma população de insetos passa a conviver
de forma gregária, aumentado a sua capacidade de destruição nas lavouras em
diferentes culturas”, explica.
Danos que podem causar
Esse tipo de praga costuma ser danosa a diversas culturas
e também consomem grande quantidade de pastagens. “O principal dano é a
desfolha intensa em diferentes culturas como pastagens, milho, soja,
cana-de-açúcar, sorgo, arroz, dentre outras, além de causar danos indiretos à
pecuária, pois consomem grandes quantidades da pastagens”, diz.
Como controlar
Sobre o cuidado que os produtores e agrônomos devem ter
caso a peste chegue aqui, Valkiria relata que o uso de inseticidas ainda é a
forma mais eficaz para o combate.
“O controle destes insetos nestas condições é complexa,
pois apresentam uma alta capacidade de voo e uma janela curta para o controle
efetivo, pois os mesmos se acomodam apenas a noite dificultando sua
visualização. O uso de inseticidas seria a forma mais viável neste momento, mas
a tecnologia de aplicação deve ser eficiente para atingi-los de forma
eficiente, utilizando por exemplo, aviões agrícolas pulverizadores para o
controle desta praga. O controle do inseto deve ser feito e orientado pelas
autoridades do país, no caso o MAPA”, conclui.
Texto: divulgação (Matheus Fanchin). Imagem: Reprodução.