Fundos multimercado dão maior retorno em 2022; veja ranking de investimentos
Em um ano de inflação e alta de juros históricas nas principais economias globais, o investidor brasileiro que optou pela proteção conseguiu escapar do prejuízo, mostra levantamento da plataforma TradeMap com algumas das aplicações financeiras mais populares do mercado doméstico.
Com um rendimento anual médio acumulado em 13,34%, os fundos multimercado entregaram o melhor retorno de 2022, segundo o IHFA, que é o índice de hedge funds da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Quem aplica em um hedge fund, ou fundo de cobertura, permite que um gestor invista nos mais variados segmentos do mercado. Embora a estratégia entre cada fundo possa variar bastante, a diversificação tem como objetivo proporcionar proteção até mesmo para cenários improváveis. Algo que fez sentido em um ano em que até mesmo a ameaça de uma catástrofe nuclear ganhou destaque nos noticiários com o início da Guerra da Ucrânia.
A pesquisa realizada a pedido da Folha de S.Paulo considerou índices de referência e ativos populares, o que significa que alguns investimentos específicos podem ter obtido desempenhos superiores ou abaixo dos presentes no ranking.
"O ano de 2022 marcou o renascimento da classe de fundos multimercados, apoiados por estratégias que se beneficiam das altas de juros e de commodities, não só no mercado brasileiro, mas a nível global, após anos de domínio dos fundos de ações impulsionados pela política de juros baixos dos bancos centrais e o duradouro rali das ações de tecnologia", comentou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
Segundo indicador da lista, o Idiv-B3 (Índice de Dividendos da Bolsa de Valores brasileira) avançou 12,65%. Como sugere no próprio nome, o índice reflete o desempenho médio de ativos que se destacam pela remuneração aos investidores, sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.
Investimentos atrelados às taxas de juros negociadas entre instituições bancárias ocuparam o terceiro lugar no pódio de 2022. Os CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários), referência para algumas das aplicações mais populares de renda fixa, entregaram em média 12,28% de ganho neste ano. É uma situação coerente com o aperto ao crédito promovido pelo Banco Central para desacelerar a inflação. A Selic, taxa básica de juros da economia, fechou em 13,75%.
Com o Banco Central aumentando o prêmio pago pelos títulos do Tesouro -para tirar capital da economia real e, assim, frear a inflação--, a dívida pública figurou entre as melhores aplicações. Composto por títulos que reproduzem a dívida do país, o Índice de Mercado da Anbima, conhecido pela sigla IMA-Geral, avançou 9,61% e ficou em quarto lugar no ranking do TradeMap.
Aplicação mais popular entre os brasileiros, a poupança rendeu 7,9% e ficou na quinta colocação, superando com larga vantagem investimentos que tradicionalmente costumavam entregar bem mais do que a tradicional caderneta.
Com duas semanas de recuperação no final deste ano, o Ibovespa, referência para as ações negociadas na Bolsa de Valores do país, fechou 2022 com alta de 4,69%. Demonstrações de que governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos últimos dias manterá certo nível de compromisso com a arrecadação ajudaram a tirar a Bolsa do vermelho em um ano em que as ações foram severamente prejudicadas pela alta global de juros e pela turbulências políticas domésticas.
Último colocado entre os investimentos que fecharam no azul, os fundos imobiliários subiram 2,22%, de acordo com o Ifix da B3.
QUEM DEU PREJUÍZO
No câmbio, dólar e euro caíram 6,50% e 11,93% (considerando a Ptax, do Banco Central), respectivamente. Cabe destacar que a Ptax, usada no levantamento do TradeMap, pode apresentar alguma diferença quando comparada a outras taxas de câmbio. O dólar comercial, por exemplo, encerrou 2022 com queda de 5,3%.
Até mesmo o ouro, refúgio de muitos investidores em períodos de turbulência, perdeu 8,48%.
Ainda no mercado de ações, o ano foi cruel com o investidor que apostou em empresas com maior potencial de crescimento, as small caps, que tombaram 15,06%.
Trata-se de um segmento do mercado acionário que depende ainda mais de juros baixos para crescer, pois além de enfrentar a concorrência de renda fixa, como quaisquer ativos de renda variável, as empresas representadas por essas ações também precisam de crédito barato para investir e crescer.
Também tombaram em 2022 as ações de empresas estrangeiras negociadas no Brasil por meio das BDRs (Brazilian Depositary Receipt ou Recibo de Valores Mobiliários). O BDRx, índice da Bolsa que acompanha esses ativos, perdeu 28,05%.
O objetivo de um recibo que representa o desempenho de uma ação no exterior é justamente permitir que brasileiros possam ter de forma facilitada o acesso a empresas que negociam suas ações em Bolsas estrangeiras, principalmente as americanas.
A maior inflação registrada nos Estados Unidos em quatro décadas e uma elevação histórica dos juros de referência do país levaram o SP-500, que é o indicador referência para Bolsa de Nova York, a desabar quase 20% neste ano.
"No início do ano havia até uma expectativa de que a inflação americana seria transitória, mas a alta de preços se mostrou cada vez mais permanente", comentou Lucas Serra, analista da Toro Investimentos.
"Os juros, que estavam em 0,25% ao ano em março, foram elevados para a casa entre 4,25% e 4,50% ao longo de 2022. Esse foi um dos maiores aumentos de juros da história recente dos Estados Unidos, ficando atrás somente da alta registrada no início dos anos 1980", disse Serra.
Nada teve desempenho tão ruim, no entanto, como o bitcoin, a mais conhecida entre as moedas criadas a partir do encadeamento de códigos sofisticados de computador e sem representação física. A criptomoeda derreteu 66,79%.
A explicação também reside no fim da farta oferta de crédito muito barato disponibilizado nos momentos críticos da pandemia de Covid pelos principais bancos centrais, como o Fed (Federal Reserve, a autoridade monetária americana).
"O setor cripto faz parte da classe de ativos voláteis e em um momento de menor liquidez
nos mercados e aversão ao risco, esses ativos tendem a ser preteridos pela maior parte dos
investidores, que preferem ativos como dólar e renda fixa", explicou Ayron Ferreira, analista chefe da Titanium Asset Management.
"O início mais claro de um novo ciclo de alta para os criptoativos deve vir quando o Fed mudar o rumo e passar a falar em corte dos juros", disse Ferreira.
Fonte:Folhapress. Imagem: E-Investidor Estadão.